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Texto: Ana Alexandra Carvalheira, PhD
Psicóloga Investigadora
Estudo sobre a resposta sexual feminina diz, no entanto, que a maioria inicia relações sexuais sem desejo.
Gostaria de saber como se comportam as portuguesas a nível sexual? Como vivenciam a sua sexualidade? Foi isso que procurou saber Ana Alexandra Carvalheira, psicóloga clínica e investigadora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), com o “Estudo Português sobre a Resposta Sexual Feminina”. A investigação, realizada junto de 3687 portuguesas, mostra que a diversidade é, afinal, a palavra de ordem. 
Começando então pelo princípio, qual será a predisposição das portuguesas para iniciarem uma relação sexual? Diz o estudo que a maioria das mulheres portuguesas heterossexuais que vivem relações de compromisso inicia as suas relações sexuais sem desejo. Contudo, depois de as iniciarem, excitam-se sem dificuldade (51.6% ocasionalmente, 34.3% muitas vezes ou sempre e 14.1% nunca), chegando cerca de 43% das mulheres a terem quase sempre orgasmos. 
Segundo a autora, «estes dados mostram a diversidade da resposta sexual feminina. Mostram ainda que muitas vezes as mulheres iniciam a relação sexual sem desejo sexual, sobretudo nas relações de longa duração, mas se houver um contexto adequado e se receberem estimulação suficiente, a mulher consegue níveis de excitação sexual para continuar, o desejo surge só depois, e a relação acaba por ser satisfatória, e esta situação é absolutamente normal. O desejo sexual não é sempre espontâneo, e não ter desejo sexual espontâneo é absolutamente normal». 
Contudo, pouco mais de 15% das mulheres têm relações sexuais com muita frequência. Grande parte (44.9%) tem relações ocasionalmente, apenas porque o parceiro quer, e 39.3% refere mesmo não ter nunca. 
Um desejo flutuante 
Ana Carvalheira recorda que o desejo feminino foi sempre mais difícil de estudar e, desta feita, a sua compreensão constitui ainda um importante desafio. Mas salienta: 
«O desejo sexual feminino é contextual e flutuante. O desejo masculino é mais constante. O desejo das mulheres flutua em resposta ao ciclo menstrual, estados emocionais, níveis de stress, entre muitos outros factores. A motivação das mulheres é altamente sensível aos contextos interpessoais positivos e negativos, e cada mulher define esse contexto com a sua subjectividade. Assim, o desejo sexual não é um fenómeno isolado no ciclo da resposta sexual feminina: por um lado, em roda-viva com a excitação sexual, por outro lado, sob influência de uma multiplicidade de factores». 
É, no entanto, possível chegar a algumas conclusões. Ana Carvalheira diz que o desejo e a excitação nas mulheres têm algumas particularidades, nomeadamente:
1º As mulheres têm uma diversidade de motivações para o envolvimento sexual; 
2º O desejo sexual é afectado pela duração das relações, sendo mais afectado o desejo das mulheres em relações de longa duração; 
3º Muitas mulheres sexualmente saudáveis não experienciam desejo sem haver estimulação sexual; 
4º A excitação sexual das mulheres não se reduz à lubrificação vaginal (apenas 43.4% identifica a sua excitação sexual através da lubrificação ou outras sensações genitais) 
5º A excitação sexual nas mulheres é sobretudo de excitação mental subjectiva, o que nem sempre é consonante com a resposta corporal. 
6º A experiência da excitação sexual nas mulheres é complexa. Muitas mulheres não distinguem claramente entre desejo e excitação. Mas, segundo a autora, muito provavelmente a distinção não tem de ser feita porque se está a falar da mesma coisa. 
Orgasmo no feminino 
Além do desejo sexual, o estudo abordou a resposta feminina relativamente ao orgasmo, fantasias sexuais e masturbação. Poderá dizer-se que a maioria das mulheres portuguesas estará satisfeita nesta área. 
Segundo o estudo, 22.7% das mulheres atinge sempre o orgasmo, 42.8% diz ter orgasmos quase sempre e 17.4% diz ter algumas vezes. Apenas 3.6% das portuguesas inquiridas neste estudo afirmam nunca ter orgasmos. 
Mas nesta análise há que ter em conta que o tipo de relação sexual praticado também influencia o alcance do orgasmo. Segundo o estudo, 16.5% das mulheres atingem o orgasmo apenas no coito vaginal, 14% têm orgasmo na masturbação ou no sexo oral mas nunca no coito vaginal, 11.8% das mulheres têm orgasmo apenas na masturbação e 5.5% apenas no sexo oral. 
Um dado adicional sobre o orgasmo nas mulheres que têm companheiros estáveis dá conta de que mais de metade destas mulheres gostaria de receber do parceiro mais e/ou melhor estimulação sexual. «Este dado mostra a importância de receber estimulação adequada e suficiente, e os estímulos que foram eficazes no passado podem já não ser no presente», refere a investigadora.
Fantasias sexuais 
No que respeita às fantasias sexuais, esta questão foi estudada junto de uma sub-amostra de mulheres sem problemas de desejo ou excitação (sexualmente saudáveis). Neste âmbito, a maioria (53,9%) diz ter algumas fantasias, 27.1% afirma ter poucas, 12.8% afirma ter muitas fantasias sexuais, e apenas 6.2% diz que não tem nenhumas. 
«Atendendo a que se trata de uma amostra de mulheres sexualmente saudáveis, estes dados mostram que há mulheres que não precisam das fantasias sexuais para funcionarem sexualmente. Mais uma vez encontramos a diversidade: para algumas mulheres as fantasias são importantes, e para outras não são. Ou seja, as fantasias sexuais não são uma condição sine qua non para uma boa vivência do sexo e do prazer», afirma Ana Carvalheira 
Masturbação 
O estudo questionou as mulheres sobre as suas práticas de masturbação na adolescência e idade adulta. A idade média de início é aos 15 anos. Nesta amostra estudada, 37.4% masturbava-se regularmente na adolescência, 27.7% fazia-o raramente, 21.7% não se masturbava na adolescência e 13.2% fazia-o com frequência. 
No que respeita às diferentes formas de masturbação, conclui o estudo que 79.6% toca directamente os genitais; 21% usa o jacto de água no chuveiro; 19.7% usa vibradores ou introduz outros objectos na vagina; 14.6% usa uma almofada ou algo semelhante para pressionar os genitais; 5.1% masturba-se sentada em determinadas superfícies (bancos, sofás, corrimãos de escada, etc)”; 0.7% a andar de bicicleta; e 7.5% de outras formas para além das referidas. A grande maioria sente prazer na masturbação. 60.2% usa menos de 15 minutos na masturbação, 29.5% usa entre 15 e 30 minutos, 2.4% entre 30 min e 1h, e 7.8% mais de 1 hora. 
Vivência da sexualidade e dificuldades sexuais 
Relativamente à forma como as mulheres portuguesas vivem a sua sexualidade, o estudo chegou a várias conclusões. Por exemplo, 38.1% das mulheres diz sentir algumas inibições a nível sexual. 
Cerca de 20.% refere que se sente pouco à vontade com o seu próprio corpo. E, um pouco menos, 18.9 % das mulheres, diz neste estudo que sente algum embaraço em relação a alguns aspectos. De salientar ainda que 11.4% sente receio de se entregar e que 11.1% sente-se demasiado passiva a nível sexual.
A grande maioria das mulheres sente alguma dificuldade a nível sexual que gostaria de ultrapassar, sendo os problemas de auto-imagem (para 49,3%) a principal dificuldade referida. A perda de interesse sexual é referida por 15,5% das mulheres e o facto de não conseguir ter orgasmos referido por 14%. Porém, 68.9% gostaria de fazer amor com mais frequência.
 

