Fonte: BBC Brasil
Em  editorial, jornal adverte que valorização do real e boom de crédito ameaçaminterromper o ciclo de crescimento econômico do Brasil.
A fortevalorização do real e o aumento da disponibilidade de crédito como consequênciado grande fluxo de capitais para o Brasil ameaçam interromper o ciclo decrescimento econômico do país, segundo adverte um editorial do jornal britânicoFinancial Times publicado nesta sexta-feira. 
Em umtexto intitulado "Feridas brasileiras", o jornal compara a economia brasileiraa uma bicicleta. "Ela funciona enquanto estiver em movimento", diz oeditorial. "Agora, porém, está ficando mais difícil pedalar." 
O jornalobserva que o real se valorizou 40% em termos reais desde 2006 e que no mesmoperíodo as importações brasileiras quase dobraram, enquanto as exportaçõescresceram apenas 5%. 
"Aúnica razão pela qual o déficit em conta corrente brasileiro não explodiu sãoos altos preços das commodities. Mas esse boom pode não durar parasempre", alerta o jornal. 
Crédito 
Oeditorial comenta ainda que a liquidez em abundância também ajudou aimpulsionar o crédito doméstico, mas que os consumidores brasileiros agoraparecem estar sobrecarregados, gastando mais que um quarto de suas rendas parao pagamento de empréstimos - nível superior ao verificado nos Estados Unidos noperíodo anterior à crise de 2008. 
Para ojornal, o crescimento do crédito no Brasil somente pode ocorrer se a rendatambém continuar a crescer. 
"Éaí que a bicicleta econômica se depara com a trincheira da guerracambial", afirma o jornal, observando que o aumento da renda eleva ademanda e a pressão inflacionária, exigindo o aumento dos juros, que atraemmais capital externo, elevando ainda mais a cotação da moeda, aumentando comisso a atração das importações e prejudicando a competitividade dasexportações. 
"Oresultado é um déficit em conta corrente mais amplo, e um limite no crescimentoexigido nos salários para manter o crédito doméstico crescendo comsegurança", diz o jornal. 
Soluções 
Oeditorial afirma que uma das maneiras de contornar o problema seria conter avalorização da moeda, mas observa que o governo brasileiro já tentou medidascomo controles parciais de capitais e grandes intervenções no mercado cambial,mas sem sucesso. 
Outrapossibilidade seria o corte de gastos públicos, dificultados pelo Congresso. 
Umterceiro caminho seria a elevação dos impostos sobre o setor de commodities,mas o texto observa que mesmo outras economias ricas em commodities e commelhor administração, como o Chile e a Austrália, estão sofrendo com problemassemelhantes e que os problemas no Brasil são mais agudos por causa do tamanhoda economia do país. 
Oeditorial conclui dizendo que "a bicicleta brasileira ainda não estáarriscada a parar". "Mas está balançando", finaliza o texto.
 
