Por: Equipe InfoMoney
02/03/11 - 17h33
Fonte: InfoMoney
SÃO PAULO - Mesmo com o elevado endividamento das famílias brasileiras, não há risco de uma bolha de crédito no país nos próximos anos, disse Fernando Honorato Barbosa, economista coordenador do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Banco Bradesco. Em teleconferência nesta terça-feira (2) junto a investidores, Barbosa refutou uma reportagem do Financial Times que aponta para o risco de uma crise de subprime brasileira semelhante à vista nos Estados Unidos em 2008.
A reportagem do jornal inglês, publicada em 21 de fevereiro pelo CIO (Chief Information Officer) da Marshall Wace e um dos co-diretores da Eureka Fund, Paul Marshall, aponta semelhanças entre os antecedentes da crise de subprime nos Estados Unidos e a atual situação do País. "Muito crédito está sendo emprestado pelos bancos com elevadas taxas para consumidores, que ultimamente não têm sido capazes de honrar a dívida", aponta Marshall.
Como paralelo entre as situações dos dois países, é citada ainda as quebras de instituições financeiras. Enquanto nos Estados Unidos a falência do Lehman Brohters foi o ápice do início da crise, no Brasil as anomalias nas práticas contábeis do Banco PanAmericano poderiam indicar a ponta do iceberg. Marshall avisa que, caso as políticas monetárias sofram qualquer deslize no País, poderiam levar a uma bolha de crédito. 
O economista do Bradesco, contudo, avalia que a comparação não é válida, já que os panoramas dos dois países mostram-se bastante diferentes. O Financial Times coloca que o endividamento da população brasileira é de 39%, enquanto o comprometimento da renda é de 22% e lembra que nos Estados Unidos, os encargos em 2008 correspondiam a 14% da renda. Isto significaria que as famílias brasileiras estariam excessivamente alavancadas, segundo Marshall.
Panoramas distintos 
Fernando Honorato Barbosa explica que, ao mesmo tempo que o comprometimento de renda das famílias brasileiras é bastante elevado, a taxa básica de juro é a maior do mundo, o que traz uma forma injusta de comparação com outros países. Além disso, o prazo médio para a execução das dívidas domésticas é consideravelmente menor do que nos Estados Unidos, que pode se estender por décadas. "A maturidade da dívida faz toda a diferença", diz o economista do Bradesco.
Além disso, o artigo do Financial Times diz que a maioria dos empréstimos por aqui são "inseguros", já que falta ao País infraestrutura para gestão de riscos. Já Barbosa afirma que mesmo que aconteça uma queda nos empregos e a situação econômica piore, "os bancos brasileiros mostram capacidade de aguentar um grande número de inadimplência sem comprometer sua capitalização".
A inandimplência de pessoas físicas, ademais, segue em tendência de queda e marca um recorde de baixa, continua Barbosa. "Olhando para a inadimplência, não há risco de bolha", ele diz. Na análise das margens da carteira do banco, ele observa que a incorporação de novos clientes não trouxe mudanças nos níveis de inadimplência.
"A taxa de poupança das famílias brasileiras é baixa e se tiver um choque na economia, a inadimplência irá subir como em 2008", admite o economista, que não deixa de observar que "faz tempo que o brasileiro vive nesta situação de endividamento". Ele destaca que nos últimos sete anos não houve piora da inadimplência e embora o comprometimento seja alto, é factível. 
Estratégias do governo
Mesmo com uma crise inflacionária neste início de ano, Barbosa destaca que o governo faz um grande esforço para manter os patamares cambiais estáveis. "Não substimem o quanto o governo quer evitar apreciação adicional do câmbio", ele adverte.
Barbosa avalia ainda que, assim como o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a equipe de Dilma Rousseff tende a evitar ao máximo o recuo na renda e consumo dos trabalhadores, que são pilares de popularidade. Desta forma, limitar o crédito seria mais dramático que subir a taxa de juros, com a segunda alternativa tornando-se mais provável de ser adotada pelo governo.
 
