Flávio Barcellos Guimarães
Consultor da ProLucro 
http://www.prolucro.com.br/
Esse artigo pretende ser o primeiro de alguns esparsos sobre uma série de ditados que permeiam o mundo dos negócios. Um ditado é uma forma simples e objetiva de propagar uma “verdade”. Ditados são úteis, mas sua simplicidade esconde perigos, afinal, “toda regra tem exceções” (até essa) e, às vezes, muitas exceções. Além disso, muitas “verdades” envelhecem e morrem, acontecendo o mesmo com os ditados. 
Um dos ditados mais usados pelos empresários é justamente o que dá título a este artigo: “o olho do dono é que engorda o boi”. E é também, pela forma como interpreta boa parte dos empresários, um dos que mais atrapalha a gestão eficiente de uma empresa.
Tentei, sem êxito, descobrir a origem deste ditado. Mas por ter encontrado mais a versão que diz “o olho do dono é que engorda o cavalo” desconfio que este seja o ditado original. A alguém, em um dado momento da história, pareceu mais próprio trocar o animal. Provavelmente um pecuarista. Mas independente do quadrúpede, o sentido é óbvio: nenhum interesse seria superior ao do proprietário de um negócio quando se fala em preservá-lo e melhora-lo e, para tal, estar sempre por perto, “vigiando”, seria essencial. Provavelmente, o conceito da época se referia à presença física, forma pela qual ele ainda é interpretado pelas pessoas.
Poucas observações mostram, não importa a época em que este ditado foi criado, que as exceções sempre foram muitas. Empreendedores e soberanos, ainda na antiguidade, conseguiam administrar vários negócios de sucesso se valendo de prepostos, algo similar aos modernos diretores e ministros. Ou seja, naquela época o olho do dono já era terceirizado. Nestes casos, o ditado teria que ser interpretado como: “acompanhe seus negócios com interesse e regularidade, conversando sempre com seus gerentes, checando os controles e, sempre que possível, visitando-o”.
Isso continua valendo até hoje. Eu conheci uma indústria têxtil no interior de Minas, com mais de mil funcionários, que à época nunca havia sido visitada pelo dono. Sócio de outra dezena de empresas similares, a aquisição, ocorrida havia mais de ano, foi por ele realizada de forma virtual.
Ilustrando mais um pouco, nas minhas buscas pela origem do ditado, encontrei pecuaristas que gerenciam médios e grandes empreendimentos em áreas remotas do país se valendo apenas de instrumentos virtuais, o que os permite morar nos grandes centros urbanos. Estavam todos “desmentindo” o ditado.
Posto tudo isso, talvez a pergunta correta seja:
“Quanto de olho do dono é preciso para engordar o boi?”
Se o empresário “olha” menos do que deveria, o boi emagrece. Se “olha” mais que deveria, desperdiça o seu tempo, seu bem mais precioso. Mais do que isso, empresários que “olham demais” tendem a atrapalhar o bom funcionamento da empresa. Existe, por fim, a categoria dos que olham e teimam em não enxergar. Como não existe a perfeição, a meta é olhar, enxergando, um pouquinho mais ou menos do que deveria.
Eu costumo dizer aos nossos clientes que nossa principal meta é deixá-los à toa. Isso significa tira-los das funções do dia-a-dia, única forma de dar a eles tempo para pensar e agir estrategicamente, ou pelo menos viver melhor. Uma empresa que depende de seu dono “esfregando barriga no balcão”, de forma geral não permiti ao mesmo saudáveis distanciamentos, como férias mais prolongadas, ou forçados, como em caso de enfermidade. Se o dono pode se privar de férias, ainda que isso gere o nefasto estresse, o mesmo não acontece no caso de uma enfermidade. E se a empresa não funciona bem sem ele, entra em risco quando menos pode.
Várias razões levam um dono a ficar pregado no negócio. Normalmente é uma combinação de dois ou mais fatores. Os principais, na nossa experiência, são:
• Insegurança, incapacidade de delegar;
• Crença de que planejar, pensar, não é trabalho e não é importante;
• Crença de que é necessário trabalhar muito e sempre – pouca valorização da qualidade de vida;
• Não saber ou querer aprender fazer outras coisas, como pesquisar, planejar, desenvolver produtos;
• Comodismo, inércia.
Existe ainda, uma categoria de empresários conscientes, que optam por “esfregar a barriga no balcão” como opção de vida, evitando custos fixos, o que inclui mais funcionários. Normalmente são microempresas, lucrativas, de caráter artesanal ou de profissão liberal, que conseguem interromper ou diminuir bastante suas atividades uma ou mais vezes por ano, permitindo bons períodos de descanso para seu dono. São pessoas menos ambiciosas no plano financeiro, ainda que muitas alcancem invejável solidez econômica. É o também famoso ditado: “de grão em grão a galinha enche o papo”. Esse também é outro ditado que merece ser avaliado. Ainda atual, é a chave do sucesso em finanças pessoais. Mas fica para a próxima.
 
