Fonte: Valor Econômico
Por Karin Sato
 Em uma noite de fevereiro de 2011, como era de costume, Lenilton Leal de Freitas, militar da Aeronáutica residente em Anápolis (GO), 49 anos, foi ao culto de sua igreja. Ao término, antes de voltar para casa, relatou seus planos de comprar um apartamento a um conhecido que, por coincidência, trabalhava em um correspondente bancário chamado Filadélphia Empréstimos Consignados. "Foi uma conversa informal e ele disse para eu passar por lá, se estivesse precisando de dinheiro", lembra. "Acabei indo, porque necessitava de recursos para pagar a entrada do imóvel."
Em uma noite de fevereiro de 2011, como era de costume, Lenilton Leal de Freitas, militar da Aeronáutica residente em Anápolis (GO), 49 anos, foi ao culto de sua igreja. Ao término, antes de voltar para casa, relatou seus planos de comprar um apartamento a um conhecido que, por coincidência, trabalhava em um correspondente bancário chamado Filadélphia Empréstimos Consignados. "Foi uma conversa informal e ele disse para eu passar por lá, se estivesse precisando de dinheiro", lembra. "Acabei indo, porque necessitava de recursos para pagar a entrada do imóvel."Ao chegar lá, Freitas relatou seu interesse em um empréstimo. O atendente se apressou a apresentar outro produto muito rentável, um investimento que garantia retorno mensal de 3,5% além da caderneta de poupança. A sugestão feita a ele foi pegar o dinheiro do crédito consignado e, em seguida, investir os recursos nessa aplicação. Mensalmente, o rendimento seria creditado em sua conta. Com esse dinheiro, ele quitaria a prestação do empréstimo consignado e ainda teria uma margem de lucro todos os meses. Mais: ao fim de um prazo estipulado, o investidor receberia o principal (valor aplicado inicialmente) de volta.
Seduzido pelo ganho aparentemente livre de riscos, em maio de 2011, o militar contraiu um empréstimo consignado no valor de R$ 65 mil no Banco Intermedium, com sede em Belo Horizonte (MG), por meio da Filadélphia- na época correspondente bancário da instituição mineira. O financiamento tinha taxa de 1,8% ao mês e prazo de 60 meses. Esses recursos foram, então, direcionados à atraente aplicação financeira supostamente oferecida pela Filadélphia. Esse investimento era realizado por meio de um documento chamado "contrato de mútuo" - que, nada mais é, do que um empréstimo. Ou seja, a pessoa física concedia um empréstimo à Filadélphia que, em troca, remunerava o investidor.
Durante seis meses, Freitas recebeu normalmente a rentabilidade mensal prometida até que, em novembro do ano passado, a Filadélphia começou a atrasar os pagamentos. Em dezembro, os depósitos simplesmente cessaram. O problema é que, em contrapartida, os débitos em folha de pagamento referentes ao empréstimo consignado continuaram. E o pior: permanecem até os dias atuais, levando o militar ao desespero.
Ao comparecer à Filadélphia para saber o que estava acontecendo, um dos atendentes disse que o problema tinha sido causado por uma greve de bancários e garantiu que o processo seria normalizado, o que não ocorreu. Na mesma época, Freitas ouviu dizer que a Filadélphia estava sendo investigada e, mais uma vez, buscou informações. "O atendente disse que era propaganda enganosa, inveja, porque eles estavam crescendo muito e o Dr. Carlos [supostamente, o presidente da empresa] ia entrar para a política. Tratava-se de uma perseguição. Pediu para que eu ficasse tranquilo, porque a Filadélphia crescia entre 4% e 5% ao ano, sendo uma empresa sólida", lembra.
As denúncias envolvendo a Filadélphia foram investigadas pela Polícia Federal que, em 31 de janeiro deste ano, resolveu prender temporariamente os administradores da empresa, em uma operação chamada Gizé, em referência às pirâmides do Egito. As investigações estavam em curso desde janeiro do ano passado.
A suspeita da PF é de formação de quadrilha, crimes financeiros e crimes contra a administração pública. "Temos provas robustas do golpe de pirâmide: documentos, depoimentos, contratos, e-mails etc", afirma Mário Veloso, chefe da Delegacia de Combate a Crimes Financeiros e Desvio de Verba Pública da Polícia Federal. Numa pirâmide, as aplicações mais novas sustentam as antigas. Ele diz ainda que o crime de sonegação fiscal é "provável", mas não pode afirmar que foi cometido. "Há vários indícios de sonegação."
Apuração da PF, na chamada operação Gizé, inclui formação de quadrilha, crimes financeiros e contra a administração pública
Até o momento, a Polícia Federal tem informação de que 2 mil pessoas teriam sido lesadas e a estimativa é de um prejuízo de R$ 50 milhões. No entanto, essa cifra pode aumentar, já que todos os dias a PF recebe mais denúncias. Três advogadas que representam investidores dizem que o número de vítimas que buscam ajuda cresce a cada dia. Maria Bernadete Vilela, advogada civil de Belo Horizonte (MG), por exemplo, relata que diariamente é procurada por cerca de dez pessoas que dizem ter sido prejudicadas pelo esquema. Já Nathália de Melo Oliveira, do escritório Freitas Peixoto & Oliveira, também de BH, afirma que há três semanas começou a receber de três a quatro telefonemas ou e-mails por dia. Dolane Patricia Santana, de Boa Vista (RR), está atendendo no mínimo 25 vítimas e diz que já parou de contar.
De acordo com informações da Polícia Federal, a Filadélphia existia desde 2006, tinha sede em Lagoa Santa (MG) e atuava em nada menos que 23 Estados. Segundo relatos de investidores e advogados, a sede da empresa foi fechada. "Era uma rede nacional, que passou a crescer em 2008, quando começou a ofertar os contratos de mútuo", afirma Veloso. Ele acredita ser um dos maiores golpes financeiros da história do país.
"Não sabia desse mútuo, nunca tinha ouvido falar e em nenhum momento desconfiei de que se tratava de um negócio ilícito. Parece-me que quem ia lá [à Filadélphia] já mordia a isca", opina Freitas. "Estou dando este depoimento como um consumidor que foi lesado, antes de tudo. Estou falando não como militar, e sim como uma pessoa que foi prejudicada", diz, ao frisar que teve de vender o carro e está usando o cheque especial, arcando com uma taxa de juros de 8% ao mês, para pagar as contas.
A reportagem do Valor procurou as pessoas que foram apontadas por fontes como os advogados da Filadélphia, via e-mail e contato telefônico, mas não obteve retorno. Na sede da empresa em Belo Horizonte e em suas filiais, ninguém atende às ligações. A única filial que atendeu o telefonema foi a de Curitiba (PR). A pessoa que atendeu informou que não é mais franqueada da Filadélphia e hoje no local funciona uma loja de colchões. "Deixamos a Filadélphia porque o valor da franquia era muito alto. Fomos franqueados por cerca de um ano, até novembro do ano passado. Nunca suspeitamos de problemas... Nem sabia dessa história de fraude", afirmou.
Seduzido pelo ganho aparentemente livre de riscos, em maio de 2011, o militar contraiu um empréstimo consignado no valor de R$ 65 mil no Banco Intermedium, com sede em Belo Horizonte (MG), por meio da Filadélphia- na época correspondente bancário da instituição mineira. O financiamento tinha taxa de 1,8% ao mês e prazo de 60 meses. Esses recursos foram, então, direcionados à atraente aplicação financeira supostamente oferecida pela Filadélphia. Esse investimento era realizado por meio de um documento chamado "contrato de mútuo" - que, nada mais é, do que um empréstimo. Ou seja, a pessoa física concedia um empréstimo à Filadélphia que, em troca, remunerava o investidor.
Durante seis meses, Freitas recebeu normalmente a rentabilidade mensal prometida até que, em novembro do ano passado, a Filadélphia começou a atrasar os pagamentos. Em dezembro, os depósitos simplesmente cessaram. O problema é que, em contrapartida, os débitos em folha de pagamento referentes ao empréstimo consignado continuaram. E o pior: permanecem até os dias atuais, levando o militar ao desespero.
Ao comparecer à Filadélphia para saber o que estava acontecendo, um dos atendentes disse que o problema tinha sido causado por uma greve de bancários e garantiu que o processo seria normalizado, o que não ocorreu. Na mesma época, Freitas ouviu dizer que a Filadélphia estava sendo investigada e, mais uma vez, buscou informações. "O atendente disse que era propaganda enganosa, inveja, porque eles estavam crescendo muito e o Dr. Carlos [supostamente, o presidente da empresa] ia entrar para a política. Tratava-se de uma perseguição. Pediu para que eu ficasse tranquilo, porque a Filadélphia crescia entre 4% e 5% ao ano, sendo uma empresa sólida", lembra.
As denúncias envolvendo a Filadélphia foram investigadas pela Polícia Federal que, em 31 de janeiro deste ano, resolveu prender temporariamente os administradores da empresa, em uma operação chamada Gizé, em referência às pirâmides do Egito. As investigações estavam em curso desde janeiro do ano passado.
A suspeita da PF é de formação de quadrilha, crimes financeiros e crimes contra a administração pública. "Temos provas robustas do golpe de pirâmide: documentos, depoimentos, contratos, e-mails etc", afirma Mário Veloso, chefe da Delegacia de Combate a Crimes Financeiros e Desvio de Verba Pública da Polícia Federal. Numa pirâmide, as aplicações mais novas sustentam as antigas. Ele diz ainda que o crime de sonegação fiscal é "provável", mas não pode afirmar que foi cometido. "Há vários indícios de sonegação."
Apuração da PF, na chamada operação Gizé, inclui formação de quadrilha, crimes financeiros e contra a administração pública
Até o momento, a Polícia Federal tem informação de que 2 mil pessoas teriam sido lesadas e a estimativa é de um prejuízo de R$ 50 milhões. No entanto, essa cifra pode aumentar, já que todos os dias a PF recebe mais denúncias. Três advogadas que representam investidores dizem que o número de vítimas que buscam ajuda cresce a cada dia. Maria Bernadete Vilela, advogada civil de Belo Horizonte (MG), por exemplo, relata que diariamente é procurada por cerca de dez pessoas que dizem ter sido prejudicadas pelo esquema. Já Nathália de Melo Oliveira, do escritório Freitas Peixoto & Oliveira, também de BH, afirma que há três semanas começou a receber de três a quatro telefonemas ou e-mails por dia. Dolane Patricia Santana, de Boa Vista (RR), está atendendo no mínimo 25 vítimas e diz que já parou de contar.
De acordo com informações da Polícia Federal, a Filadélphia existia desde 2006, tinha sede em Lagoa Santa (MG) e atuava em nada menos que 23 Estados. Segundo relatos de investidores e advogados, a sede da empresa foi fechada. "Era uma rede nacional, que passou a crescer em 2008, quando começou a ofertar os contratos de mútuo", afirma Veloso. Ele acredita ser um dos maiores golpes financeiros da história do país.
"Não sabia desse mútuo, nunca tinha ouvido falar e em nenhum momento desconfiei de que se tratava de um negócio ilícito. Parece-me que quem ia lá [à Filadélphia] já mordia a isca", opina Freitas. "Estou dando este depoimento como um consumidor que foi lesado, antes de tudo. Estou falando não como militar, e sim como uma pessoa que foi prejudicada", diz, ao frisar que teve de vender o carro e está usando o cheque especial, arcando com uma taxa de juros de 8% ao mês, para pagar as contas.
A reportagem do Valor procurou as pessoas que foram apontadas por fontes como os advogados da Filadélphia, via e-mail e contato telefônico, mas não obteve retorno. Na sede da empresa em Belo Horizonte e em suas filiais, ninguém atende às ligações. A única filial que atendeu o telefonema foi a de Curitiba (PR). A pessoa que atendeu informou que não é mais franqueada da Filadélphia e hoje no local funciona uma loja de colchões. "Deixamos a Filadélphia porque o valor da franquia era muito alto. Fomos franqueados por cerca de um ano, até novembro do ano passado. Nunca suspeitamos de problemas... Nem sabia dessa história de fraude", afirmou.
 
