sexta-feira, 16 de março de 2012

Última chamada para a festa da bolsa

Fonte: Valor Economico

Por Flavia Lima

 Luis Stuhlberger: "Nos próximos 90 a 120 dias, se as coisas não piorarem, teremos sim uma puxada na bolsa"
Regis Filho/Valor / Regis Filho/Valor"Aproveitem a festa, mas não fiquem demais", recomendou Luis Stuhlberger ao falar de investimentos em bolsa para uma plateia de 90 ouvintes atentos em uma segunda-feira à noite em São Paulo. "Meu palpite é que o dólar vai subir, mas, nos próximos 90 a 120 dias, se as coisas não piorarem, teremos sim uma puxada na bolsa", emendou.
Segundo ele, uma inflação de serviços de, em média, 12% ao ano vai acabar afetando o câmbio. "Mas antes disso o dólar é capaz de cair ainda mais, com tudo o que ainda podemos ver de investimentos estrangeiros diretos, IPOs [ofertas iniciais de ações] e de dinheiro vindo para a bolsa", disse. "Esse problema não vai ser agora".


De sua parte, no entanto, o responsável pela gestora de recursos Credit Suisse Hedging-Griffo avisa que a estratégia já está em processo de mudança. "O dólar a R$ 1,70 me parece um bom ponto de entrada. Me vejo cada dia com um pouco mais de câmbio e menos de ações", afirmou. Títulos indexados à inflação também estão entre suas preferências pelo menos desde meados do ano passado.
Stuhlberger avalia ainda que as operações fora do Brasil se mostram cada vez mais favoráveis. "Todos os dias me vejo vendendo ações no Brasil e comprando fora", afirmou. Mas reconhece que papéis de empresas brasileiras denominados em dólar pagam bem.
Soa um tanto estranho ouvir uma voz dissonante em um momento em que as percepções com relação ao Brasil geralmente têm um viés bastante positivo. Mas diz muito sobre um gestor que leva o exercício de antecipar tendências realmente a sério. "Eu fico quieto, esperando a caça passar na minha frente e sei que posso esperar anos assim".
Sabendo, no entanto, que muitas de suas "caças" têm rendido ao seu fundo, o multimercado Verde, um retorno médio de 31,8% ao ano desde 1997 - contra 17,3% ao ano do CDI -, parece oportuno ouvir o que ele tem a dizer.
A busca por desequilíbrios econômicos, fonte dos seus maiores lucros, é permanente. Em quase 16 anos à frente do Verde - hoje com patrimônio de R$ 2,8 bilhões - lembra que ganhou muito dinheiro em pelo menos oito ocasiões de desequilíbrio. "O resto é feijão com arroz", disse.
Uma delas foi em janeiro de 1999, em meio à maxidesvalorização do real. À época, a compra de dólares deu retornos estratosféricos ao fundo, que, com um patrimônio de apenas R$ 4 milhões, acabou ganhando mais em reconhecimento. "Foi no início de 2002, com a compra de câmbio e opções de juros que o fundo fez um 'big money'", contou.
Outra sacada importante ocorreu em 2003, início do governo Lula, em que Stuhlberger foi às compras no mercado de ações. Tudo porque em um dia frio de outubro encontrou [o então senador] Aloizio Mercadante no bar mitzvah [cerimônia judaica] do filho de um amigo em comum onde lhe foi assegurado que o novo governo não arquitetava grandes mudanças.
Mas teve o que chama de alguns "cases perdidos" também, como as ações da Souza Cruz e Lojas Americanas. "Dói saber que se tivesse investido tudo em Souza Cruz em 1997 teria ganho mais do que o fundo Verde no período", afirmou, entre risadas.
O grande salto em sua carreira, disse ele, ocorreu no fim de 1986, em meio ao ocaso do Plano Cruzado. "Ganhei dinheiro com ouro a ponto de poder me mudar para a Vila Nova Conceição [um bairro de classe alta em São Paulo]". Mais risadas
A lição, de tomar partido dos desequilíbrios, foi aprendida lendo livros do investidor americano George Soros. Por quem "teve a honra" de ser recebido durante uma hora na semana passada, em Nova York, ocasião em que conversaram sobre cenário internacional.
A respeito do tema, sobre o qual falou longamente na última entrevista dada ao Valor, em fevereiro, Stuhlberger afirmou que, se tudo der errado, será o que chama de "grande Plano Collor mundial". "O dinheiro vai perder valor e as pessoas vão correr para os caixas dos bancos".
"Mas a economia brasileira, baseada em commodities, câmbio a R$ 2 e salários altos, aguenta bastante", afirmou. "Eu não contaria com chineses ou italianos para estragar o Brasil. O Brasil só pode ser estragado por brasileiros mesmo".